CASE REPORT
A pioventriculite caracteriza-se pelo empiema intraventricular. Geralmente é secundária à meningite, ao abscesso cerebral rompido ou a procedimentos neurocirúrgicos e apresenta elevada mortalidade. Apresentamos o caso de um paciente de 3 meses com história de aumento significativo do perímetro cefálico nos últimos 30 dias. Investigação inicial com tomografia computadorizada de crânio evidenciou dilatação dos ventrículos laterais com conteúdo denso intraventricular. Na sequência realizou-se punção transfontanelar com drenagem de secreção purulenta. A análise da secreção coletada evidenciou hipercelularidade e no exame cultural observou-se o crescimento de Pantoea agglomerans. A investigação complementar com ressonância magnética de crânio com gadolínio corroborou com o diagnóstico de pioventriculite biventricular associado a múltiplas malformações cerebrais. A investigação de TORCHs revelou a presença de citomegalovírus no líquido cefalorraquidiano e na urina. O paciente manteve o tratamento antimicrobiano e antiviral por 8 semanas com resposta satisfatória. O caso relatado evidencia um paciente com malformações cerebrais congênitas, provavelmente secundárias à infecção intrauterina pelo citomegalovírus. As malformações cerebrais propiciaram um ambiente favorável à neuroinfecção, a qual se concentrou em ambos os ventrículos laterais, sem disseminação para o parênquima, cistos adjacentes e demais espaços liquóricos. O patógeno causador da infecção raramente causa infecções em humanos. Na literatura, há apenas 2 casos de acometimento do sistema nervoso central por Pantoea agglomerans, ambos após um procedimento neurocirúrgico. Nessa perspectiva, apresentamos um caso único de ventriculite espontânea, adquirida na comunidade por uma bactéria que, até então, não havia sido associada com tal patologia.
1. Neurosurgery Service, Hospital Criança Conceição, Grupo Hospitalar Conceição, Porto Alegre, RS, Brasil.
Received Nov 4, 2024
Corrected Jan 12, 2025
Accepted Jan 13, 2025